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sexta-feira, 18 de março de 2011

A ESTRATÉGIA DO ESCORPIÃO



Além da tragédia humana, o terremoto no Japão terá um efeito colateral gravíssimo para o futuro próximo da humanidade.

O acidente nuclear de Fukushima pode reavivar o messianismo verde



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E isso poderá ocorrer, paradoxalmente, por conta do previsível renascimento do movimento antinuclear dos ambientalistas.

Esse movimento, que ganhou força nos anos 1970-1980 em função da ameaça representada pela instalação dos mísseis nucleares na Europa pela URSS e EUA, andava em baixa depois que a opinião pública mundial estava se convencendo de que o uso pacífico da energia nuclear poderia ser um grande aliado no combate ao aquecimento global. Afinal, como reconheceu inclusive o papa do ambientalismo, James Lovelock, a energia nuclear é talvez a mais limpa produzida pelo homem. Havia ainda, claro, o temor de desastres como Chernobyl e Three Miles Island, mas esses acidentes já tinham virado agulha no palheiro – afinal, eram, até a semana passada, os únicos em 60 anos de produção de energia nuclear, com um total de quase 500 usinas em todo o mundo. Agora o acidente em Fukushima - cujo drama ainda se desenrola - reacenderá o messianismo catastrofista dos verdes, que certamente conseguirão cancelar muitas usinas nucleares, fortalecendo, paradoxamente, a necessidade de produção de energia com combustíveis fósseis – carvão e petróleo principalmente. Isso significará o aumento da emissão de gás carbônico (CO2) e, consequentemente, do efeito estufa. Abaixo, reproduzo um artigo da Reuters publicada pelo Valor Econômico:


Recuo da energia nuclear aquecerá mais o planeta

Daniel Fineren e Nina Chestney,
Reuters, de Londres

"O aquecimento global vai se intensificar se a China, que é um dos maiores emissores de CO2 do mundo, desistir do programa nuclear mais ambicioso em andamento no planeta, e se a Alemanha fechar algumas de suas usinas nucleares em meio ao pânico provocado pela crise da energia atômica no Japão.

A produção de energia térmica aumentará drasticamente a emissão de CO2
 A decisão de Pequim, anunciada ontem, de suspender seu amplo projeto de construção de novas usinas foi tomada depois que a Alemanha, a maior emissora de carbono da Europa, ter anunciado que fechará sete usinas.
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Ativistas 'verdes' alemães pedem o fechamento de usinas nucleares
Se o Japão, que já era o quinto maior emissor de carbono do mundo antes do tsunami de sexta-feira, levar ao fechamento de várias de suas usinas nucleares, não tem muita escolha a não ser queimar mais gás e carvão para compensar a perda provocada pelo fechamento dos reatores que emitem pouco carbono.

O CO2 é uma das substâncias contribuem para o aquecimento global. O congelamento dos projetos nucleares é uma reação à crise provocada por um terremoto seguido de tsunami no Japão, que danificou instalações nucleares e provoca um vazamento de radiação que já atinge algumas áreas do território japonês.

Na Europa, além da Alemanha, a Suíça também freou projetos nucleares, o que poderá significar emissões muito mais altas no continente.
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“Definitivamente isso vai aumentar as emissões, uma vez que elevará a demanda de longo prazo por gás”, disse ontem Isabelle Curien, analista do Deutsche Bank. “Se quisermos ter uma economia com baixos níveis de emissão de carbono até 2050 sem usar a energia nuclear, será necessário uma quantidade enorme de energias renováveis e não sei se isso poderá ser feito nessas proporções.”

Além de ser a principal causa das mudanças infligidas pelo homem ao clima, a queima de carvão é também a principal causa da poluição do ar, das chuvas ácidas, de bronquite, asma e morte prematura, segundo entidades científicas.

A poluição na China aumentará substancialmente sem energia nuclear 

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Usina chinesa movida a carvão
A China, que segundo estimativas de Todd Stern, representante dos Estados Unidos para as discussões sobre as mudanças climáticas na Organização das Nações Unidas (ONU), poderá emitir 60% mais carbono que os EUA até o fim da década, vem apostando na energia nuclear para reduzir sua dependência do carvão. O país pretende começar a construir 40 gigawatts de nova capacidade de geração de energia até 2015. Parece improvável que o governo chinês abandonará esses planos e até agora ele não ordenou o fechamento de usinas em operação. Mas o congelamento poderá atrasar a construção das novas usinas e impedirá a desativação de usinas geradoras de energia que funcionam à base de carvão.



O aquecimento global é responsável pelo derretimento das geleiras
 A decisão da Alemanha de desativar sete de seus geradores mais antigos pelo menos até junho, também deverá levar a uma maior poluição atmosférica.

“Acredito que as usinas que queimam carvão são os substitutos mais prováveis para esses reatores. Isso significa que teremos entre 8 milhões e 11 milhões de toneladas de CO2 adicionais na atmosfera nos próximos meses”, disse ontem Matteo Mazzoni, analista da Nomisma Energia da Itália.

Se a Alemanha der um passo a mais e fechar todos os seus reatores nucleares, substituindo-os por combustíveis fósseis, isso poderá aumentar as emissões em pelo menos 400 a 435 milhões de toneladas entre agora em 2020, segundo estimativas de analistas.

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A Agência Internacional de Energia (AIE), que aconselha as maiores potências industriais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), alertou para uma reação automática contra a energia nuclear e disse ser impossível reduzir as emissões de carbono sem a energia nuclear. Mas com o aumento das preocupações no mundo com os problemas nucleares do Japão, a autoridade energética da Europa levantou a possibilidade de um futuro livre da energia nuclear, que segundo grupos ambientais é viável e devia acontecer. Outros, no entanto, afirmam que o futuro deverá ser mais “gasoso”.

Energia nuclear: depois do renascimento, outra vez no banco dos réus
“A tragédia japonesa poderá provocar um revés no renascimento da energia nuclear no mundo (exceto talvez na China)”, disseram analistas do banco francês Société Générale (SocGen), acrescentando que o gás provavelmente se transformará no combustível “imposto” aos países da OCDE, onde os eleitores poderão decidir contra a energia nuclear.

O banco estima que se todos os 34 países da OCDE, que não inclui a China, fecharem suas usinas nucleares e as substituírem por usinas movidas a gás antes do desenvolvimento de tecnologias que capturem suas emissões de carbono, as emissões da OCDE poderão crescer quase 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano." (todos os grifos são meus)


Ninguém pensa em parar de fabricar aviões depois de um acidente aéreo, mas em aperfeiçoar as medidas de segurança. Por que nossa atitude deveria ser diferente em relação à energia nuclear? 

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