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terça-feira, 24 de abril de 2012

O CORAÇÃO DAS TREVAS FRANCÊS

Claude Hollande: que concessões ele fará para ganhar voto? 
Há um dado que salta aos olhos nas eleições da França: a força crescente da extrema direita xenófoba no país que foi o berço do Iluminismo e da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Marine Le Pen, candidata do Front National, teve 18% dos votos; o socialista François Hollande, 28,63%, e o presidente Nicolas Sarkozy, 27,17%. Em 2002, o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, com uma votação menor do que a filha (16,86%), desbancou o socialista Lionel Jospin, ficando apenas três pontos percentuais atrás do gaullista Jacques Chirac. 

No segundo turno, o temor da extrema direita deu uma vitória esmagadora a Chirac, que venceu com 82% - porcentagem maior do que a de Luís Bonaparte.


Marine Le Pen, candidata da extrema direita
Sarkozy foi o primeiro presidente da V República a receber menos votos do que um candidato da oposição no primeiro turno. Alguns analistas apressados dizem que ele é rejeitado pelos franceses por ser o primeiro estadista francês do pós-guerra a se assumir abertamente uma postura de direita, num país onde se dá de barato que a esquerda há décadas venceu o debate intelectual. Ora, isso está longe de ser verdade, como mostra a influência no debate eleitoral de temas caros aos herdeiros de Vichy – como a “islamização” da França e a “ameaça” representada pelos imigrantes.    

A França, na verdade, sempre foi uma nação ideologicamente fraturada. Depois das revoluções de 1789, 1830, 1848 e 1871, um episódio menor – a falsa acusação de traição contra um oficial judeu do Exército, Alfred Dreyfus, em 1894 –, teve o condão de mergulhar o país em outra luta política fratricida, que opôs antissemitas, clericais, militaristas e monarquistas a anticlericais, democratas, socialistas e radicais republicanos. Durante a Segunda Guerra Mundial, repetiu-se a divisão, com grande parte da França apoiando o governo colaboracionista do marechal Pétain e uma minoria apoiando a resistência antinazista comandada pelo general Charles De Gaulle.

O general De Gaulle conclama os franceses à resistir ao nazismo...
Mas a grande mudança no imaginário francês aconteceu depois da guerra - deixo de lado as causas econômicas e sociais desse fenômeno. De Gaulle acreditava na grandeur francesa e, para livrar a cara de seus compatriotas, forjou o mito de que todos os franceses tinham sido da Resistência contra o regime de Vichy. Ele resgatou o orgulho nacional francês, mas, com isso a França deixou de viver a catarse dos pecados da extrema direita – a xenofobia e a violência – como a Alemanha. Resultado: na Argélia, o Exército colonial francês cometeu as maiores barbaridades como se fosse a coisa mais natural do mundo. A extrema-direita voltou a crescer na França a partir dos anos 1980. E até hoje, quando se toca o dedo na ferida do colaboracionismo, a França mergulha num profundo mal-estar civilizatório.
...mas muitos de seus compatriotas apoiaram Pétain 
Significativamente, os herdeiros de Hitler e Mussolini também cresceram na Áustria, mas não na Alemanha – país que foi militarmente arrasado e que teve que fazer mea culpa do nazismo. Por isso, a extrema direita e os neonazistas quase nunca tiveram representação do Bundenstag (Parlamento alemão) e as manifestações de violência xenófoba sempre foram abertamente repudiadas pela opinião pública.             
          
Resta saber que concessões Hollande fará para conquistar os corações e mentes do eleitorado de Marine Le Pen...



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