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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Celso Furtado: um economista ou filósofo social?



 Comentário ao post de Gabriel Merheb Petrus 

O Longo Amanhecer, documentário sobre Celso Furtado

Caros, Gabriel e geonautas,
Gostaria de acrescentar, sem tirar o brilho do texto, mas adicionar um pequeno detalhe, que em parte consta dos extras do DVD do filme, primeiramente, depois de terminar o curso de direito no início dos anos 40 no Rio de Janeiro, na qual ele certamente deve ter lido quase todos os clássicos, que começou na biblioteca de seu pai, o fato completamente inusitado para os padrões de nossa história e de nossa elite, primeiro ele se alistou para a guerra junto as Forças Armadas, foi lutar como um soldado junto a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Grande Guerra na Europa. 

E voltou da guerra querendo entender o Brasil e o mundo, aí sim voltou para se aprofundar em estudos na Europa. E foi magistral, teve a percepção, a visão de que no mundo pós-guerra, estava havendo mudanças estruturais nas correlações de forças globais (como ocorre hoje) e alertou o país, na qual o Brasil, deveríamos estar atento aos fatos, para a nova realidade. Sua visão do processo da história que acontecia foi assertiva, como sabemos, as mudanças globais ocorreram, como ele teve a percepção, como ele viu no seu tempo presente, para nós, para o país, para a elite primária que somos, ainda hoje, foi “um bonde chamado desejo”. São evidentes, novamente, os sinais de que está ocorrendo mudanças estruturais no mundo, outra vez depois de meio século, será que vamos perder o bonde novamente?
O fato acima é realmente inusitado, trata-se de uma postura e ato nobre, de uma certo tipo de elite rara na história de nosso país, que pouco se ouve (porque pouco há), o que houve, o que ouvi no grupo escolar, na qual a memória diz me que o recreio era a melhor parte, ouvimos das professoras histórias vergonhosas de uma elite covarde, como essa que reproduzo: a elite brasileira do império, concedeu alforrias aos seus escravos para os mesmos lutarem na guerra da "Tríplice Aliança" contra o Paraguay, em troca de não enviarem  seus próprios filhos, essa é talvez, sinais do princípio verdadeira de nossa herança, maldita ou não.
O nascimento da República veio com as mesmas mazelas, com os mesmos princípios e estruturas da herança "patrimonialista" da velha elite da nossa formação portuguesa, que ocupou o lugar da aristocracia do império, o novo "Estamento" era a velha aristocracia disfarçada com roupa nova, repleto de pedantismo, a pedantocracia do academicismo, os preconceitos e nojo do povo brasileiro, que reflete ainda hoje em nós, como a frase de Joaquim Nabuco, que foi o que tivemos de melhor no império: “Em mim só o sentimento é brasileiro, minha imaginação é européia”.
Que de certo modo, é a estrutura que temos até hoje. Somos uma nação com mais de 50% de negros,  mas para citar o historiador Luiz Felipe de Alencastro: Cadê os negros das forças armadas? Cadê os negros nos legislativos do país? No executivo? No judiciário? Cadê os negros no funcionalismo público de alto escalão? Cadê os 50% de negros professores universitários? Cadê os 50% de negros alunos das universidades públicas? Etc.
Em uma conferência recente com Fernando Novais sobre História Econômica na Geografia, USP, onde os economistas, no meu modo de ver, foram tratados de forma pejorativa, na qual em geral concordo, ele chamou Celso Furtado, como todo mundo chama, de um economista, eu protestei, disse que ele era muito mais que economista, mesmo ele se considerando um e se sentindo muito bem entre os economistas.
Como disse o coreano economista de Cambridge, Ha Joon Chang, no programa Milênio, Globo News (link), os economista deveriam ser processados pelas irresponsabilidades e catástrofe da grave crise econômica, acrescento que os membros que escolhem o Nobel de Economia, também deveriam ser processados e ser eliminado essa premiação do Nobel.
Lembro o conceito criado pelo sociólogo alemão, Ulrich Beck, sobre a irresponsabilidade do sistema do setor financeiro e energia nuclear (Ulrich Beck e as questões nuclear pós Fukushima):
Em recente debate sobre o lançamento, na livraria Cultura, do novo livro de Celso Furtado, “Ensaios sobre Cultura e o Ministério da Cultura” (Arquivos Celso Furtado 5). Questionei Rosa Freire d´Aguiar Furtado, que escreve o prefácio da coletânea de artigos, que ele não deveria se restringir ao mundo da pequenez da Ciência Econômica de mercado. Logo depois, nos autógrafos, em conversa paralela com um jovem que era Sociólogo e estava pesquisando em economia, argumentou para mim: “Mas até Marx era economista”, ou seja, o problema é bem mais complexo do que a gente pressupõe, pois até um pensador e filósofo social do peso de Marx, vira mero economista.
Mesmo diante dessa realidade (distorcida), eu continuo na minha cruzada e a protestar, e digo em alto e bom tom sobre o pensador: Celso Furtado, economista uma ova.
E pergunto: Celso Furtado, um economista ou filósofo social? 


Fonte: Portal Luis Nassif

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