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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

NOS MELHORES CINEMAS - O MENSALÃO MADE IN U.S.A.



Filme vai chocar puritanos, ingênuos e hipócritas ao descobrirem que a libertação dos negros nos Estados Unidos se deu através da compra de votos, da mentira e da manipulação dos fatos

Por André Lux, crítico-spam

“Lincoln” de Steven Spielberg é uma verdadeira aula de como se faz política no mundo real e é talvez o melhor filme do cineasta desde “A Lista de Schindler”.
O roteiro é excepcional e foca-se no início do segundo mandato do presidente estadunidense, justamente quando, em meio a uma sangrenta guerra civil, dedicou-se de corpo e alma para aprovar a emenda constitucional que acabou com a escravidão nos EUA.
O filme vai com certeza chocar puritanos, ingênuos e hipócritas em geral ao descobrirem que a libertação dos negros nos Estados Unidos se deu através da compra de votos de parlamentares (isso mesmo: um “mensalão made in U.S.A.”!), da mentira descarada e da manipulação dos fatos feitas por Lincoln e seus assessores para que a guerra continuasse mesmo quando emissários do Sul estavam a caminho de Washington para propor a paz.
Ao que voltamos à velha pergunta retórica que tira o sono de muita gente: afinal, os fins justificam os meios? Valeu a pena abolir a escravidão nos EUA fazendo uso da pura e simples corrupção, da mentira e da manipulação dos fatos? Bem, pergunte isso a alguém como, digamos, Barack Obama, e você talvez tenha a resposta para sua questão...
Esse é o filme mais maduro de Spielberg, que está extremamente contido e fazendo uso de movimentos de câmera discretos, porém precisos, empregando inclusive o termo “negro” abertamente tal qual era usado naquela época e que hoje é considerado ofensivo aos afro-americanos. Ou seja, não tem medo de ser polêmico e de provocar debates, deixando de lado a sua tendência a ser didático e infantiloide que detona a maioria de suas tentativas de fazer filmes para adultos pensantes.
O filme conta com uma extraordinária atuação do grande Daniel Day-Lewis, que não se deu bem em papéis de cunho histórico em filmes como “Gangues de Nova York” e “Sangue Negro” onde perdeu-se em caracterizações descontroladas e caricatas. Seu Abraham Lincoln é impressionante, muito por ser discreto e elegante sem nunca apelar para tiques ou trejeitos manjados, fazendo com que muitas vezes nos esqueçamos de estar diante de um ator e não da figura histórica propriamente dita (ajuda muito também a maquiagem perfeita).
O elenco de coadjuvantes é memorável, a começar por Sally Field, excelente como a primeira-dama, e Tommy Lee Jones como um congressista que é radicalmente a favor da libertação dos escravos e que precisa, em nome de um bem maior (o fim da escravidão), mudar de posicionamento em uma seção do Congresso ao ser confrontado pela oposição Democrata que deseja fazer uso de suas opiniões radicais em favor da causa dos escravagistas. A belíssima música do mestre John Williams dá o tom do filme, solene e majestosa, sem nunca ser intrusiva.
Vale destacar também que será uma surpresa para muita gente saber que foi o partido Republicano quem liderou a campanha pelo fim da escravidão, enquanto os Democratas lutavam pela manutenção do regime desumano. Isso mesmo, o partido de George W. Bush e afins é que libertou os escravos de seus grilhões! O que será que os dementes do Tea Party teriam a dizer sobre isso hoje, não? Realmente, uma pergunta que não quer calar...
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