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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Thomas Mann: uma crua e impactante descrição do ódio racial....


Era de um fanatismo soberbo e essa atitude negativa construía todo o seu orgulho e conteúdo de sua vida

 
O post de hoje é escrito por Thomas Mann e extraído de seu clássico Montanha Mágica.
Um belíssimo romance de formação, situado em um sanatório para tuberculosos na Suiça, às vésperas da Primeira Guerra Mundial e recheado de densos e preciosos debates filosóficos.
Mann é saudado ainda pelo senso agudo de percepção da realidade e um tom profético do horror que se avizinhava na Alemanha já em 1924, quando escreveu o romance.
O que segue é uma descrição crua e ao mesmo tempo impactante do funcionamento do ódio racial –como o antissemitismo é combustível a uma vida que só se preenche na tutela e repressão ao outro.
O resultado disso é amplamente conhecido.
 
“Um homem entrou na comunidade do Berghof, um trintão, antigo comerciante, febril desde muito tempo e que passava os anos indo de sanatório em sanatório. Era inimigo dos judeus, anti-semita por princípio e por esporte; era-o com um fanatismo soberbo, e essa atitude negativa construía todo o seu orgulho e conteúdo de sua vida. Tinha sido comerciante; já não o era nada no mundo a não ser inimigo dos judeus.
Estava gravemente enfermo; sofria de penosos ataques de tosse; às vezes dava a impressão de espirrar pelos pulmões, um só espirro agudo, breve, sinistro. Mas não era judeu, e precisamente isso é que nele havia de positivo. Chamava-se Wiedemann, tinha um nome cristão e não um nome impuro. Era assinante de uma revista intitulada A Tocha Ariana...
(...)
Wiedemann tinha um característico olhar rápido e insidioso. Literalmente, era como se andasse com uma borla suspensa diante do nariz, em que cravasse os olhos com malícia, sem nada enxergar atrás dela. A ideia fixa, absurda, que o acossava, convertera-se numa desconfiança pruriente, numa constante mania de perseguição, que o impelia a catar qualquer impureza oculta ou disfarçada que porventura existisse a seu redor, e a expo-la ao desprezo público. Fosse onde fosse, remoqueava, suspeitava, destratava.
Em suma, o que lhe absorvia os dias era a tarefa de levar ao pelourinho todas as criaturas vivas que não tivessem aquela qualidade única que ele possuía”.
Por Marcelo Semer

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